quarta-feira, 31 de março de 2010

O retrato do esquecimento


Já se passaram mais de 80 anos. Uma vida e tanto. As lembranças de sua juventude estão marcadas no passado, há muitos anos. Hoje ela pouco representa algo para sua família.
A idade chegou, os dentes caíram, os fios de cabelo ficaram brancos. A saúde já não é mais a mesma. A pobre senhora tem de ir ao hospital semanalmente para verificar a quantas anda sua frágil saúde. Ela nada pode fazer sem o acompanhamento de uma pessoa. O mundo tornou-se pequeno demais para ela, deixando-a na completa amargura. Ela tem 6 filhos. Todos crescidos e com carreiras encaminhadas para o sucesso. Não se importam com sua mãe, o que é prazeroso para eles é o ver o enriquecimento de seus trabalhos. O descompromisso é total quando referem-se à mulher que os gerou durante 9 meses dentro de seu ventre. A mulher, que um dia foi jovem, tentou passou por todas as dificuldades para dar uma vida digna aos seus filhos. A tentativa de compreender tamanho desprezo vindo de sua família é inválida. Ela questiona se aquela chinelada, aquele puxão de orelha ou aquela bronca dada em tentativa de corrigir o erro dos filhos para torná-los pessoas melhores causaram a ira que ficou reprimida durante anos.
Os dias passam e hoje é seu aniversário. Ela foi a única a se lembrar da data. Teve companhia, mas não estava presente. Passou grande parte do dia vendo as velhas e amareladas fotos de seu casamento, remetendo-a às lembranças do quão feliz e bonita era. Seu marido morreu há mais de 20 anos, mas as memórias continuam presentes. Assim terminou o seu dia.
A única expectativa que restou na vida da senhora é pura e simplesmente de ter o reconhecimento e carinho de seus filhos, passando os dias restantes de sua vida ao lado deles ao invés de terminar o ciclo da vida numa cama de hospital como uma mulher velha, sem amor e sobretudo sem ninguém.

2 comentários:

  1. Um dia, todos nós cairemos no esquecimento. Seu texto foi nostálgico e cumpriu um ciclo que quase sempre se completa com um final triste.

    Parabéns você é digno de ser lido por Adélia Prado.

    =)

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  2. Vejo o brilhante jornalista que esta por vim!

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