sábado, 20 de fevereiro de 2010

Juventude


Tudo parecia ter perdido a razão. De nada valia viver. O ballet era apenas uma distração, não mais uma paixão. Marie preparava-se para um grande espetáculo que iria acontecer no dia seguinte, o que para muitas bailarinas tinha um grande significado, Marie não pensava o mesmo. Em seu camarim, consumida em tristeza, Maria olha para o espelho e vê como os anos se passaram. Rugas e marcas de expressão são cobertos pela forte maquiagem. Os minutos passam e Marie é surpreendida com a entrega de um embrulho em seu camarim. Não hesita em abri-lo. Surpreende-se ao ver o material contido. Um diário escrito por seu único e verdadeiro amor. Marie pergunta para si própria: quem haveria mandado tais lembranças que só me fazem chorar? Marie isola-se de tudo e todos e vai ao encontro de sua juventude. Inicia-se a leitura e junto com ela as recordações vêm à tona. Flashbacks tomam conta de sua mente.
Marie, 15 anos, jovem e inocente bailarina. Voltando para casa, Marie depara-se com um jovem que a observa e admira sua beleza. Após segundos ele se arrisca e puxa conversa com ela. Marie e Henrik finalmente são apresentados um ao outro. Descobrem que moram perto. O início de uma grande amizade estaria começando, ou muito mais. No dia seguinte, Marie acorda cedo e decide pescar. Escova os dentes rapidamente, vestiu o maiô, desceu as escadas e foi de encontro ao barco de pesca. Marie começa a ficar sonolenta, os minutos passam e nada de peixes. Talvez não seria seu dia de sorte. Marie adormece. Segundos após, Marie é surpreendida com a visita de uma pessoa: Henrik e seu fiel companheiro, seu cão. Os jovens se encontram, felizes decidem passear e apreciar a bela paisagem onde estavam. Juntos correm, riem, comem morangos silvestres. Descobrem um ao outro. Tornam-se íntimos. Decidem se encontrar novamente. Um sentimento maior começa a aflorar em seus corações. Marie e Henrik finalmente se beijam. A descoberta do amor estava sendo feita pelos dois jovens. Começam a namorar. Inocência não fazia mais parte da vida de ambos. O desejo era recíproco. Marie e Henrik realmente estavam apaixonados, e nada nem ninguém poderia afastá-los. Até que um certo dia, indo para casa com Henrik, Marie encontra seu tio Erland, bêbado, o infeliz começa a profanar, difamar, ofender a integridade de sua sobrinha. Claro, Erland tentara seduzir sua sobrinha por muitas vezes, porém não obteve sucesso. A única saída encontrada por ele é tentar desgraçar a felicidade de Marie. O casal parece não se importar e vai para o quarto. O clima não era dos melhores, e eles sabiam muito bem disso. Os dias passam e começam os desentendimentos. Henrik sentia-se esquecido por sua namorada, alegando que ela se importava mais com o ballet do que com ele. O casal tem uma séria discussão e Henrik, desolado, sai da casa de Marie, sem rumo. O remorso tomou conta de Marie, que arrependida, sai à procura de seu amor, indo até a casa do mesmo. Henrik chorava de tamanha tristeza. Marie disse que a culpa era dela e o casal se reconcilia. A felicidade estava junta do casal novamente. Marie e Henrik correm sem destino algum, apenas carregando o desejo de se amarem. Brincam, beijam, amam. Não resta dúvidas que foram feitos um para a outro. O tempo muda e Marie também. A constante alegria foi tomada por uma vontade repentina de chorar a noite toda. Um pressentimento de que algo ruim estaria a acontecer. Henrik apenas a acariciou e a beijou, disse que nada de ruim poderia acontecer. Para descontrair o clima de tristeza, Henrik a leva para nadar no rio. Tarde demais. Henrik pulou no mar, quando Marie, sem ter o que fazer, só pôde gritar e ver Henrik indo de encontro às rochas. O jovem havia caído de cabeça, completamente inconsciente. Marie, desesperada, tenta salvar o namorado. Em vão. Henrik estava morto e levou consigo a felicidade de Marie. Não havia mais razão para viver, Marie estava morta por dentro.
Voltando ao presente, Marie encontrou-se num rio de lágrimas, não parava de chorar ao relembrar a felicidade que fora interrompida bruscamente anos atrás. O que fazer? Marie continua a viver e tentando achar um motivo para sua existência.
No dia seguinte, o grande espetáculo estava por vir. Carregando consigo nostalgia e tristeza, Marie apresenta-se, junto com seu grupo, para o teatro completamente lotado, o público se levanta e a aplaude, realmente foi uma bela apresentação de ballet. Para Marie foi apenas mais um espetáculo trágico, assim como tem sido sua longínqua jornada desde a perda de sua vida aos 15 anos.


Tack, Ingmar Bergman.

Um comentário:

  1. bonito,trágico e aceitavelmente banal,acontece com muita gente,creio eu.
    Eu imagino todas as palavras que não dizemos as pessoas e quando elas se vão é tarde pra dizê-las.adorável!

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